Existia
no norte da Espanha, uma serra muito alta e íngreme chamada Penha de França, na
qual o rei Carlos Magno teria lutado contra os mouros desbaratando-os.
Por
volta de 1434, certo monge francês sonhou com uma imagem de Nossa Senhora que
lhe apareceu no topo de uma escarpada montanha, cercada de luz e acenando para
que ele fosse procurá-la.
Simão
Vela, assim se chamava o monge, durante cinco anos andou procurando a
mencionada serra, até que um dia teve indicação de sua localização e para lá se
dirigiu. Após três dias de intensa caminhada e escalando penhas íngremes, o
monge parou para descansar, quando viu sentada perto dele uma formosa senhora
com o filho ao colo que lhe indicou o lugar onde encontraria o que procurava.
Auxiliado por alguns pastores da região, conseguiu achar a imagem que avistaram
em sonho.
Construiu
Simão Vela uma tosca ermida nesse local, que logo se tornou célebre pelo grande
número de milagres alcançados por intermédio da Senhora da Penha, e mais tarde
ali foi construído um dos mais ricos e grandiosos santuários da cristandade.
Em Portugal, o culto de Nossa Senhora da Penha
iniciou-se após a batalha de Alcácer-Quibir, de tão triste memória, na qual
perdeu a vida o rei D. Sebastião. Entre os portugueses que conseguiram
escapar da escravidão muçulmana encontrava-se um escultor chamado Antônio
Simões, o qual, no mais aceso da peleja, prometeu à Virgem Santíssima
fazer-lhe sete imagens se Ela o conduzisse novamente à sua Pátria. Fiel ao
seu voto, iniciou logo o trabalho, esculpindo seis figuras com os respectivos
títulos. Ao chegar à sétima e não sabendo que invocação dar-lhe, foi
aconselhado por um padre jesuíta a fazer a imagem de Nossa Senhora da Penha,
cujos milagres eram muito comentados em Castela.
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Aceitando
a sugestão, o escultor luso executou a obra e colocou-a na ermida da vitória,
mas algum tempo depois resolveu edificar-lhe uma igreja em local próximo a
Lisboa e que mais tarde se tornou conhecido como Penha de França.
Naquela
época, uma peste assolou o país e como a Espanha se livraria do flagelo graças
à intervenção de Nossa Senhora da Penha, o Senado da Câmara de Lisboa prometeu
à Mãe de Deus construir-lhe um grandioso templo, se Ela livrasse a cidade da
moléstia. Extinguiu-se a epidemia quase subitamente, a Câmara mandou edificar
magnífico santuário naquele local.
Este
tempo passou a atrair milhares de peregrinos e em certa ocasião um devoto,
tendo subido ao alto da penedia, vencido pelo cansaço adormeceu. Uma grande
cobra aproximou-se para picá-lo quando um enorme lagarto saltou sobre ele
despertando-o a tempo de matar a serpente com seu bastão. Essa é a razão pela
qual a imagem de Nossa Senhora da Penha tem aos pés um peregrino, a cobra e o
lagarto.
Como
quase todos os títulos da Virgem Maria registrados no Brasil no período
colonial, o culto de Nossa Senhora da Penha foi trazido por marujos portugueses
e aqui tomou grande impulso, devido à devoção dos lusitanos emigrados que
transpuseram para nossa pátria os seus costumes e devoções.
Um
dos mais famosos templos brasileiros dedicados a esta invocação é o de São
Paulo. Segundo os antigos cronistas, um viajante francês seguia de Piratininga
para o Norte, levando em sua bagagem uma imagem de Nossa Senhora da Penha de
França. Ao passar pelo morro chamado então Aricanduva, parou para descansar. Ao
continuar o trajeto no dia seguinte, notou a falta da santa. Voltou para
procurá-la e foi encontrá-la no lado do morro de Aricanduva. Guardou a imagem
no baú e prosseguiu viagem, mas, ao chegar no pouso seguinte, notou a falta da
efígie, que foi encontrada novamente no local onde pousara. Este fato
repetiu-se várias vezes e ele, vendo nisso a vontade do céu, ali plantou uma
pequena ermida.
O
padre Jacinto Nunes, filho de um dos primeiros habitantes de São Paulo de
Piratininga, transferiu a imagem e a capela para o alto do morro onde se
encontra a secular matriz da Penha. Não sabemos exatamente a data da fundação
deste templo, mas é certo que em 1667 ela já existia e era cercado de alpendres
como as mais antigas igrejas do Brasil. Em 1687 o bispo D. José de Barros
alarcão quis transferir a imagem de Nossa Senhora da Penha para um
recolhimento, mas as mulheres do bairro se revoltaram e a Padroeira ali
permaneceu. Ela é atualmente a Protetora da cidade de São Paulo e sua igreja
está coberta de promessas e ex-votos.
A
ermida da Penha, no Rio de Janeiro, foi fundada no início do século XVII pelo
capitão-mor Baltasar Cardoso, senhor de um engenho de açúcar naquela
localidade, tendo sido substituída pelo atual templo construído no século XIX,
que se avista de todo o litoral da Guanabara.
A história e a lenda de Nossa
Senhora da Penha de Vitória, no Espírito Santo são ainda mais antigas que as da
ermida paulista.
Num belo dia de maio do ano de
1535, em terras goitacás no meio da mata, onde se podia ouvir o grito dos
papagaios, e o farfalhar das folhas das árvores gigantescas, um ruído estranho
ecoou pelos ares. Era um tiro de canhão, talvez o primeiro a ser ouvido em
plagas capixabas. A caravela "Glória" acabava de fundear na enseada
da futura Vila Velha, trazendo o donatário Vasco Fernandes Coutinho, fidalgo
português que havia deixado sua abastada Quinta no Alenquer para tomar posse da
capitania, à qual deu o nome de Espírito Santo.
A esperança que o dominava ao
desembarcar nas praias do Novo Mundo foi aos poucos se apagando devido às lutas
entre colonos e naturais da terra e Vasco Coutinho mandou vir do Reino alguns
padres a fim de pacificá-los. Entre os missionários que ali chegaram durante o
governo do inditoso donatário, estava o Frei Pedro Palácios, franciscano
espanhol, que trazia em sua bagagem um belíssimo painel de Nossa Senhora, o
mesmo que ainda existe no convento da Penha de Vitória. Na azáfama do desembarque,
não notaram os companheiros o desaparecimento do santo frade e somente após
dois dias acharam-no numa gruta ao pé da montanha, onde havia exposto o painel
da Virgem, convidando os fiéis à prece e à meditação.
Certo dia os devotos não
encontraram Frei Pedro e nem o painel. Pelo latido do cãozinho que sempre o
acompanhava, descobriram-no na escarpa do morro que domina a bela baía de
Vitória. Contou então que o painel havia desaparecido e ele estava a
procurá-lo. Após ingentes esforços, um grupo de pessoas conseguiu atingir o
cume do monte e ali, entre duas palmeiras, encontraram a pintura.
Religiosamente foi a tela reconduzida à gruta, mas diante do ocorrido, Frei
Pedro iniciou a construção da Igreja dedicada a São Francisco, na chapada,
junto ao cume da montanha e para lá levou o painel de Maria.
A imagem de São Francisco lá
ficou, mas o quadro da Virgem novamente desapareceu sendo encontrado ainda uma
vez no píncaro, entre as duas palmeiras. Resolveu então o frade construir uma
ermida no cume de penhasco, e ele mesmo, velho e alquebrado, carregou os
primeiros materiais até o lugar da capela. Realizado o seu grande sonho, a
igreja foi solenemente inaugurada a 1º de maio de 1570, e, enquanto se
elevavam os foguetes e as manifestações de alegria dos que ali se encontravam,
subiu ao céu a alma de Frei Pedro Palácios ao som dos sinos da ermida da Penha.
Após a morte de Frei Palácios,
a ermida ficou a cargo de alguns devotos e amigos, que a conservaram. Esta
situação perdurou até 1591, quando as autoridades de Vila Velha e de Vitória
decidiram entregar a Capela da Penha aos Frades Franciscanos. Desde então, os
filhos de São Francisco aumentaram a capela, e a transformaram no célebre
Santuário. Em fins de 1651 teria sido lançada a pedra fundamental do Convento de
Nossa Senhora da Penha. O Conventinho teve sua construção rematada em 1660
necessitando, a partir de então, de constantes melhorias e reparos.
A Festa da Penha, com romarias
e afluência de devotos de todo o Brasil, acontece na primeira segunda-feira
após a Páscoa. Um grande incentivador da festa foi Frei João Nepomuceno
Valadares, natural de Vitória, que destacou-se como restaurador do Santuário do
Convento, realizando obras de grande vulto nos anos de 1853 a 1862. Faleceu em
1865 e foi enterrado numa parede interna do Convento de São Francisco de
Vitória, bem em frente à porta da sacristia.
Fonte: Nilza Botelho Megale, "Invocações da Virgem Maria no Brasil"
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