Iúna para o século XXI
Vivemos uma época de transição ou mudança
cultural. Penso que é hora de olharmos para a Iúna do século XXI, reconhecendo
os novos talentos, os novos costumes, as novas paisagens, o novo jeito de viver
do iunense, mas respeitando a nossa história, as tradições, o folclore,
destacando a identidade cultural, para o reconhecimento de nossas crianças,
nossos jovens, população em geral, também dos municípios vizinhos e onde mais
pudermos alcançar.
As transformações a que assistimos no mundo
também ocorrem em nossa casa, em nossa cidade. É pensando nelas que devemos
estar ao buscar a nossa identidade cultural, partindo de onde a história de
Iúna se fez e pensando onde seguirá, mantendo suas tradições, adaptando,
criando, inovando e evoluindo para o futuro.
O avanço das transformações tecnológicas
reflete diretamente em nosso meio sócio-cultural. Percebemos nas famílias os
debates sobre os antigos valores que hoje caíram em desuso, avós questionando e
cobrando aos pais a educação dos netos, jovens assimilando a era digital, a
globalização, mantendo um conhecimento limitado da identidade cultural de seu município,
vivendo no interior, com referências urbanas ou globais, o que pode ser uma
causa da ausência de afinidade ao lugar onde se vive, ou crise de identidade.
Afirmo isso, pois há 17 anos leciono História e Geografia para adolescentes e
jovens. Também sou mãe de dois adolescentes e presencio comportamentos que me
conduzem a essa conclusão.
Tenho observado como a falta de afinidade com
o tema cultural, presente nos jovens, tem refletido no nosso dia a dia. Pense
sobre as características que marcam a vida em comum no nosso município. A
carência de unidade, de atitude, de perspectiva, de liderança, constante na
população jovem e economicamente ativa dessa cidade. Pense nos destaques
econômicos dos municípios vizinhos, envolvendo o empreendedorismo, o ecoturismo,
o agroturismo, enquanto Iúna provida de alguns recursos, mantém-se num “quase”
anonimato. Pense nas matérias de jornais e TV que insistem em divulgar apenas
os fatos policiais de Iúna, pois são as notícias de maior ibope referente ao
município, sempre induzindo a população a uma opinião deturpada pela mídia e
por pessoas ignorantes, mantendo a indesejada fama de Iúna como terra de
“matador”. Qual é o proveito disso? O que podemos esperar de crianças que crescem
nesse meio? O que podemos fazer para tentar construir uma realidade diferente e
mais promissora em nosso município?
Deixar o governo conduzir essa situação é
cômodo, mas governo não produz cultura; ele mantém instituições que devem
reconhecer a cultura e garantir direitos de identidade e acesso. Quem produz
cultura é o povo, de forma dinâmica, em que traços se perdem, outros se
adicionam, na invenção ou introdução de novos conceitos, no intercâmbio
cultural e nas descobertas inovadoras. Por isso, a cultura e a identidade
cultural não devem ser pensadas como um patrimônio a ser preservado de forma
imutável, engessada.
As inovações têm chegado a Iúna por
iniciativas particulares. A introdução de novas culturas, de novos empreendimentos,
a sustentabilidade, a arte, a educação, a literatura, fotografia, música,
enfim, essas iniciativas, mesmo isoladas, estão sim expandindo a cultura iunense.
Mas é preciso ir além de iniciativas individualizadas para o povo iunense viver
em um mundo globalizado, identificando-se, respeitando a cultura local e para
que a cultura iunense ultrapasse as divisas municipais e estaduais. Se valorizamos
nossa cultura, vamos unir nossas potencialidades para dar credibilidade e visibilidade
a ela. Precisamos da constituição de grupos sociais focados nesse
objetivo.
Podemos, portanto, criar um grupo
envolvendo pessoas de diferentes gerações e setores sociais, em que cada setor
representado possa contribuir com propostas de projetos para serem discutidos e
incorporados pelo grupo que fará o seu estudo e a execução. Devemos considerar
que depende de todos nós a criação desse grupo; a atuação vai construir sua
referência; o respeito mútuo, a união e a perseverança, vão garantir sua
permanência, lembrando que esse é um longo caminho a percorrer, que se faz dia
a dia, passo a passo, com determinação, paciência e trabalho.
Viná
Garcia Silveira de Moraes.
Professora
e Historiadora.
Iúna,
26 de junho de 2012.