26 de junho de 2011

O café nas montanhas de Iúna

Florada do café em Iúna ES

Breve relato Histórico:

Em 1800 chegam as primeiras sementes de café no Espirito Santo, em Linhares. Em 1812 foi enviada para o Rio de Janeiro a primeira remessa de excedente de produção. Até então o carro chefe da economia capixaba era a cana de açúcar, tendo ainda outras culturas como a mandioca, o milho, o gado, o café, mas como agricultura de subsistência.

Os irmãos D´Amico resolveram vir para a região do “Sertão Norte”, como era chamada a divisa de Minas e Espírito Santo, totalmente despovoada, porém de terras férteis e propícias para a agricultura.

Chegando eles iniciaram o plantio de café e também se instalaram como comerciantes locais. No início a prática dos dois irmãos não foi bem recebida pelos fazendeiros luso-brasileiros já radicados na região do Rio Pardo. Gradativamente, na medida em que as lavouras começaram a produzir e o produto foi comercializado na cidade de Cachoeiro do Itapemirim, de onde foram exportados, proporcionando uma boa margem de lucro aos produtores, outros fazendeiros também iniciaram o plantio de café.

O 2º Barão do Itapemirim possibilitou livre trânsito aos irmãos Amigo na praça em Cachoeiro, e auxiliou na divulgação do produto junto aos fazendeiros do Rio Pardo. A intenção dos dois irmãos italianos era exatamente que os demais fazendeiros também se tornassem produtores de café para que florescesse em toda vasta região do Rio Pardo o comércio, verdadeira vocação dos imigrantes.

Aos remanescentes da Guerra do Paraguai o Império outorgou sesmaria no “sertão Norte”. Dentre os remanescentes encontramos: Capitão João Inácio de Almeida (Fazenda Saudade, sua sede ficava em Perdição, possuía um enorme senzala e um cemitério somente para escravos, ainda existente na localidade), Tenente Ambrósio Leite, Cel. Francisco Antônio Rodrigues Justo (Fazenda Boa Sorte, próximo à Vila do Rio Pardo, possuía engenho, fábrica de aguardente e rapadura, ainda hoje preservada por seus netos) e Vicente Antônio da Silveira Leite.

Onze Estados e 1.850 municípios brasileiros cultivam café, destacando Espírito Santo, Minas Gerais, São Paulo, Bahia e Paraná. O número de propriedades rurais cafeeiras é estimado entre 221 mil e 300 mil.

Atualidades:

Um estudo realizado no Espírito Santo detectou que o produtor rural capixaba gasta mais do que ganha para produzir café. A análise foi feita em Vila Valério, Jaguaré e Iúna.
 

A Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil - CNA divulgou o relatório do custo da produção cafeeira no Espírito Santo, fruto de uma pesquisa do Centro de Inteligência em Mercados, realizada em Jaguaré, Iúna e Vila Valério, referências na produção de café no Estado.
 

Dos municípios analisados, Jaguaré foi o segundo onde mais se gasta para produzir 60 sacas de café Conilon. Do valor total de R$ 7.540 por hectare, 38% é utilizado na colheita e a pós-colheita, onde estão inseridos gastos com mão de obra, mecanização e outros. Ao contrário de Vila Valério, que não utiliza máquinas e implementos no processo produtivo, Jaguaré gasta com mecanização, R$ 597,6 para a produção analisada.

Iúna se diferencia dos outros municípios pesquisados, pois o gasto com mão de obra é nulo, já que os proprietários de terra firmam acordos com parceiros, dividindo a produção final. Então, o custo operacional total sai por R$ 2.804,58 a cada hectare, onde são produzidas nove sacas de café Arábica. Os maiores gastos estão concentrados nos insumos: fertilizantes, defensivos e corretivos.
 

A saca do café Arábica está sendo vendida no Espírito Santo a aproximadamente R$ 200, valor inferior ao custo operacional total de produção que está cotado a R$ 311,62, segundo a análise. A situação desestimula o cafeicultor a investir em qualidade, segundo o presidente da Comissão Técnica de Café da Federação da Agricultura e Pecuária do Espírito Santo, José Umbelino de Castro.
 

"Pouca gente hoje no Estado quer produzir café Arábica. Enquanto o café de terreiro bebida dura nas praças de São Paulo, Paraná e Minas Gerais, vale em média R$ 320 e na zona da mata mineira é vendido a R$ 300, o do Espírito Santo possui preço inferior. Isso acontece porque quem compra não analisa a qualidade do produto", comenta José Umbelino de Castro.

 As informações são da Assessoria de Comunicação da Faes, adaptadas pela Equipe CaféPoint.

Sobre a questão Adelino Junior Thomazini comenta:

"A pesquisa reflete o que presenciamos no campo. Os agricultores estão desmotivados e sem esperanças quanto à melhoria na rentabilidade da atividade. É importante mencionar que estamos passando por um momento de mudanças no mercado mundial. O consumidor exige cada vez mais qualidade nos produtos que adquire. Não é diferente com o café. No caso do ES, o custo de produção vem subindo ano após ano e não temos como competir com os outros produtores, como por exemplo, o Vietnã. Nesse caso a única saída é buscar a valorização de nosso produto através da melhoria da qualidade e da diferenciação do mesmo. O governo do estado do ES vem trabalhando através do INCAPER um programa de melhoria de qualidade. Esse programa tem apresentando bons resultados, porém os compradores ainda não pagam um prêmio que justifique o investimento para a produção de café Conilon de qualidade. Necessitamos de estruturar um programa de comercialização para esses cafés de qualidade, passando pela diferenciação do processo produtivo e chegando até a formação de opinião do consumidor final. 

O pequeno produtor isolado não tem condições de fazer marketing de seu produto e nem como garantir o abastecimento para a indústria. Apesar de ter um bom café, ele continua nas mãos do velho modelo de comercialização, que até reconhece a qualidade do seu produto, mas não paga mais por isso. Ações cooperativas e associativas são de extrema importância para a criação de um novo modelo. O modelo atual de comercialização não suportará o novo cenário do mercado. É preciso mudar para se manter na atividade."


Opinião pessoal:
Um sério problema enfrentado hoje pelos produtores é a contratação de mão de obra, que, além de escassa, fica mais cara a cada ano. Entre os fatores que reduzem a oferta de trabalhadores para a colheita está o aumento da escolaridade da população rural, o que abre novas oportunidades de empregos, e a demanda aquecida, principalmente na construção civil. Para amenizar os gastos, os cafeicultores estão investindo cada vez mais na mecanização. Porém, devido ao relevo em algumas regiões do Estado, muitas vezes não é possível mecanizar o processo.

Os produtores de café orgânico de Iúna estão desistindo da produção devido ao alto custo para adquirir certificação, uma exigência para este tipo de produto que dificultou a comercialização, e também devido a produção ser quantitativamente inferior ao café convencional. Com isso, perdemos um café de ótima qualidade, sem  produto químico e consequentemente mais saudável. A produção foi substituída pelo café cereja despolpado tipo exportação, que já está sendo comercializado pela cooperativa familiar de agricultores local.

Sabemos o quanto este assunto é importante para o desenvolvimento do nosso município, deixe aqui sua opinião e sugestões.

Viná Moraes.

Uma outra recente matéria sobre o assunto na folha Vitória que também cabe analisar: http://www.folhavitoria.com.br/economia/blogs/riquezasdenorteasul/2011/08/30/municipio-de-iuna-exporta-cerca-de-70-da-producao-de-cafe/ 

24/10/2011
http://gazetaonline.globo.com/_conteudo/2011/10/noticias/a_gazeta/opiniao/1002482-juarez-do-caparao.html

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