23 de abril de 2012

Personagens históricos do Estado do Espírito Santo


Vasco Fernandes Coutinho 

Nascido em Portugal (1490), tornando-se destaque nas conquistas portuguesas na áfrica e na ásia, Vasco Coutinho foi o primeiro capitão-donatário da Capitania do Espírito Santo (1535). Uma vez estabelecido, fundou as vilas de Vila Velha e Vitória e colaborou ativamente para o desenvolvimento da agricultura com a distribuição de terras para cultivo (sesmarias) e na construção de engenhos para a produção de açúcar. 





Frei Pedro Palácios 
Irmão leigo franciscano, a ele atribui-se a fundação do Convento da Penha, em Vila Velha. Nasceu na Espanha, na cidade de Medina do Rio Seco, mudou-se para Portugal e, em 1558, chegou à Capitania do Espírito Santo. Conta-se que na viagem para o Brasil, ele teria acalmado uma forte tempestade e desde então, ficou conhecido como "o santo frade". No ES, a "Gruta do Frei Palácios" é até hoje conhecida. Formado pela natureza, no monte onde se localiza o Convento da Penha, o vão teria sido - segundo historiadores - a primeira "residência" do frei em terras capixabas. 





Araribóia 
Cacique da tribo dos temiminós (grupo indígena tupi) perdeu o controle sobre seus domínios quando os franceses - ajudados pelos Tamoios - tomaram a Guanabara, na Capitania do Rio de Janeiro em 1555. Sem suas terras, Araribóia e sua tribo vieram para a então Capitania do Espírito Santo reorganizar sua aldeia. Aliado dos portugueses na retomada da Guanabara, o cacique teria reforçado com milhares de homens, indígenas e inimigos dos Tamoios as forças lusas. Uma luta da qual saíram vitoriosos. 




Padre José de Anchieta 
Missionário jesuíta, José de Anchieta nasceu Ilhas Canárias e abraçou sua vocação religiosa ainda jovem. Em 1553, aos 19 anos, foi convidado a vir ao Brasil acompanhando Duarte da Costa, segundo governador-geral nomeado pela Coroa Portuguesa. Estabeleceu-se em São Vicente (primeira vila fundada no Brasil) e lá teve seu primeiro contato com os índios, começando seu trabalho de conversão batismo e catequese, que incluía poesia e teatro. Em 1585, já no Espírito Santo, fundou a aldeia de Guaraparim (atual Guarapari). Morou no estado promovendo sua fé entre os nativos até a sua morte - em Reritiba, 1597. Seu cortejo fúnebre foi acompanhado por 3000 índios, num percurso de 90 quilômetros de Reritiba até Vitória. A localidade se chama hoje Anchieta e o padre, depois de um processo que durou séculos, foi beatificado pelo Papa João Paulo II em 1980. 




Maria Ortiz 
Jovem capixaba de origem espanhola, Maria Ortiz (nascida em 1603) é considerada por muitos uma heroína brasileira. Vivendo na Capitania do Espírito Santo, ela teria iniciado a resistência a um ataque-surpresa holandês a Vitória em 1625. De cima de uma ladeira (chamada Ladeira do Pelourinho, na época), jogando água fervente, paus, pedras e brasa sobre os invasores, incentivou a vizinhança a fazer o mesmo e teria conseguido retardar o avanço holandês dando tempo das tropas portuguesas organizarem seu contra-ataque. O lugar acabou tendo o nome trocado para Ladeira Maria Ortiz e, em 1924, virou uma escadaria e conservou o nome da jovem de atitude heróica. A Escadaria Maria Ortiz existe até hoje ligando as partes alta e baixa do Centro da cidade de Vitória. 




Domingos José Martins 
Nascido nas proximidades de Itapemirim, este personagem capixaba, que foi comerciante e estudou na Europa, destacou-se pela ativa participação na Revolução Pernambucana de 1817. O desejo de fazer aquela população livre do domínio português, o tornou forte disseminador dos ideais libertários, atuando também na luta que foi travada com o objetivo maior da independência do Brasil. Derrotado, com o fim da Revolução que durou menos de 80 dias, vários líderes do movimento foram fuzilados. Martins foi levado para a Bahia, julgado e também condenado à morte por fuzilamento. Patrono da Polícia Civil do Espírito Santo, ele também foi desta forma homenageado pelo Instituto Geográfico e Histórico do Estado. 



Elisiário 

Escravo que ficou conhecido por defender e propagar ideias libertárias entre os negros, além de chefiar a principal revolta de escravos do Espírito Santo, a Insurreição de Queimados, em 1849. Hoje incorporado ao município da Serra, Queimados foi a localidade escolhida pelo Frei Gregório José de Maria Bene para construção de uma igreja. Prometendo a liberdade para os escravos que concluíssem a obra, o frei, além de explorar o trabalho escravo, teria descumprido o trato gerando enorme revolta naqueles que ergueram a Igreja de Queimados. Os revoltosos, chefiados por Elisiário - o "Caudilho Negro" - e outros líderes negros como João e Chico Prego, resistiram com sua luta durante dias, percorrendo fazendas na tentativa de obrigar fazendeiros a assinar cartas de alforria. Vencidos pela força policial, foram presos, condenados à morte ou ao açoite. Elisiário teria escapado da prisão num momento de descuido dos guardas e se refugiado na mata. Há registros de que ele teria construindo um quilombo na região de Cariacica conhecida hoje como Piranema. 




Caboclo Bernardo 
Bernardo José dos Santos, pescador simples da Vila de Regência conhecido como Caboclo Bernardo, entrou para a história do Espírito Santo por sua bravura. Ele ajudou a salvar 128 tripulantes do navio Cruzador Imperial Marinheiro, da Marinha de Guerra do Brasil em 7 de setembro de 1887. A embarcação fazia o mapeamento da costa capixaba quando se chocou contra o portal sul da Barra do Rio Doce (a 120 m do povoado). Com o mar revolto, os moradores pouco conseguiram fazer para ajudar. Bernardo se dispôs a nadar até o navio levando um cabo que, preso a estrutura, pudesse trazer os marinheiros a terra. Foi preciso que ele se lançasse ao mar quatro vezes antes de conseguir completar a tarefa que salvou quase toda a tripulação. Condecorado pela Princesa Isabel, virou herói local. 




Augusto Ruschi 

Agrônomo, ecologista e naturalista brasileiro, o capixaba Augusto Ruschi (1915-1986), é o Patrono da Ecologia do Brasil e um dos ícones mundiais da proteção ao meio ambiente. Foi professor da UFRJ, pesquisador do Museu Nacional e ajudou na implantação de reservas ecológicas no país, como o Parque Nacional do Caparaó. Autoridade mundial em beija-flores e orquídeas; foi um dos primeiros homens a denunciar os efeitos danosos do DDT (utilizado na agricultura) sobre a natureza; a enfrentar a ditadura militar e denunciar o início da derrubada da Floresta Amazônica; a prever a escassez de água no mundo e o aquecimento global, e a denunciar o efeito danoso da agricultura em larga escala, com fertilizantes e agrotóxicos. No Espírito Santo, fundou o Museu de Biologia Mello Leitão (em Santa Teresa, onde nasceu) e no Rio de Janeiro colaborou na elaboração da Fundação Brasileira para Conservação da Natureza.




12 de abril de 2012

Nossa Senhora da Penha




História de Nossa Senhora da Penha




Existia no norte da Espanha, uma serra muito alta e íngreme chamada Penha de França, na qual o rei Carlos Magno teria lutado contra os mouros desbaratando-os.

Por volta de 1434, certo monge francês sonhou com uma imagem de Nossa Senhora que lhe apareceu no topo de uma escarpada montanha, cercada de luz e acenando para que ele fosse procurá-la.
Simão Vela, assim se chamava o monge, durante cinco anos andou procurando a mencionada serra, até que um dia teve indicação de sua localização e para lá se dirigiu. Após três dias de intensa caminhada e escalando penhas íngremes, o monge parou para descansar, quando viu sentada perto dele uma formosa senhora com o filho ao colo que lhe indicou o lugar onde encontraria o que procurava. Auxiliado por alguns pastores da região, conseguiu achar a imagem que avistaram em sonho.
Construiu Simão Vela uma tosca ermida nesse local, que logo se tornou célebre pelo grande número de milagres alcançados por intermédio da Senhora da Penha, e mais tarde ali foi construído um dos mais ricos e grandiosos santuários da cristandade.
Em Portugal, o culto de Nossa Senhora da Penha iniciou-se após a batalha de Alcácer-Quibir, de tão triste memória, na qual perdeu a vida o rei D. Sebastião. Entre os portugueses que conseguiram escapar da escravidão muçulmana encontrava-se um escultor chamado Antônio Simões, o qual, no mais aceso da peleja, prometeu à Virgem Santíssima fazer-lhe sete imagens se Ela o conduzisse novamente à sua Pátria. Fiel ao seu voto, iniciou logo o trabalho, esculpindo seis figuras com os respectivos títulos. Ao chegar à sétima e não sabendo que invocação dar-lhe, foi aconselhado por um padre jesuíta a fazer a imagem de Nossa Senhora da Penha, cujos milagres eram muito comentados em Castela.
Aceitando a sugestão, o escultor luso executou a obra e colocou-a na ermida da vitória, mas algum tempo depois resolveu edificar-lhe uma igreja em local próximo a Lisboa e que mais tarde se tornou conhecido como Penha de França.
Naquela época, uma peste assolou o país e como a Espanha se livraria do flagelo graças à intervenção de Nossa Senhora da Penha, o Senado da Câmara de Lisboa prometeu à Mãe de Deus construir-lhe um grandioso templo, se Ela livrasse a cidade da moléstia. Extinguiu-se a epidemia quase subitamente, a Câmara mandou edificar magnífico santuário naquele local.
Este tempo passou a atrair milhares de peregrinos e em certa ocasião um devoto, tendo subido ao alto da penedia, vencido pelo cansaço adormeceu. Uma grande cobra aproximou-se para picá-lo quando um enorme lagarto saltou sobre ele despertando-o a tempo de matar a serpente com seu bastão. Essa é a razão pela qual a imagem de Nossa Senhora da Penha tem aos pés um peregrino, a cobra e o lagarto.
Como quase todos os títulos da Virgem Maria registrados no Brasil no período colonial, o culto de Nossa Senhora da Penha foi trazido por marujos portugueses e aqui tomou grande impulso, devido à devoção dos lusitanos emigrados que transpuseram para nossa pátria os seus costumes e devoções.
Um dos mais famosos templos brasileiros dedicados a esta invocação é o de São Paulo. Segundo os antigos cronistas, um viajante francês seguia de Piratininga para o Norte, levando em sua bagagem uma imagem de Nossa Senhora da Penha de França. Ao passar pelo morro chamado então Aricanduva, parou para descansar. Ao continuar o trajeto no dia seguinte, notou a falta da santa. Voltou para procurá-la e foi encontrá-la no lado do morro de Aricanduva. Guardou a imagem no baú e prosseguiu viagem, mas, ao chegar no pouso seguinte, notou a falta da efígie, que foi encontrada novamente no local onde pousara. Este fato repetiu-se várias vezes e ele, vendo nisso a vontade do céu, ali plantou uma pequena ermida.
O padre Jacinto Nunes, filho de um dos primeiros habitantes de São Paulo de Piratininga, transferiu a imagem e a capela para o alto do morro onde se encontra a secular matriz da Penha. Não sabemos exatamente a data da fundação deste templo, mas é certo que em 1667 ela já existia e era cercado de alpendres como as mais antigas igrejas do Brasil. Em 1687 o bispo D. José de Barros alarcão quis transferir a imagem de Nossa Senhora da Penha para um recolhimento, mas as mulheres do bairro se revoltaram e a Padroeira ali permaneceu. Ela é atualmente a Protetora da cidade de São Paulo e sua igreja está coberta de promessas e ex-votos.
A ermida da Penha, no Rio de Janeiro, foi fundada no início do século XVII pelo capitão-mor Baltasar Cardoso, senhor de um engenho de açúcar naquela localidade, tendo sido substituída pelo atual templo construído no século XIX, que se avista de todo o litoral da Guanabara.

A história e a lenda de Nossa Senhora da Penha de Vitória, no Espírito Santo são ainda mais antigas que as da ermida paulista.
Num belo dia de maio do ano de 1535, em terras goitacás no meio da mata, onde se podia ouvir o grito dos papagaios, e o farfalhar das folhas das árvores gigantescas, um ruído estranho ecoou pelos ares. Era um tiro de canhão, talvez o primeiro a ser ouvido em plagas capixabas. A caravela "Glória" acabava de fundear na enseada da futura Vila Velha, trazendo o donatário Vasco Fernandes Coutinho, fidalgo português que havia deixado sua abastada Quinta no Alenquer para tomar posse da capitania, à qual deu o nome de Espírito Santo.
A esperança que o dominava ao desembarcar nas praias do Novo Mundo foi aos poucos se apagando devido às lutas entre colonos e naturais da terra e Vasco Coutinho mandou vir do Reino alguns padres a fim de pacificá-los. Entre os missionários que ali chegaram durante o governo do inditoso donatário, estava o Frei Pedro Palácios, franciscano espanhol, que trazia em sua bagagem um belíssimo painel de Nossa Senhora, o mesmo que ainda existe no convento da Penha de Vitória. Na azáfama do desembarque, não notaram os companheiros o desaparecimento do santo frade e somente após dois dias acharam-no numa gruta ao pé da montanha, onde havia exposto o painel da Virgem, convidando os fiéis à prece e à meditação.
Certo dia os devotos não encontraram Frei Pedro e nem o painel. Pelo latido do cãozinho que sempre o acompanhava, descobriram-no na escarpa do morro que domina a bela baía de Vitória. Contou então que o painel havia desaparecido e ele estava a procurá-lo. Após ingentes esforços, um grupo de pessoas conseguiu atingir o cume do monte e ali, entre duas palmeiras, encontraram a pintura. Religiosamente foi a tela reconduzida à gruta, mas diante do ocorrido, Frei Pedro iniciou a construção da Igreja dedicada a São Francisco, na chapada, junto ao cume da montanha e para lá levou o painel de Maria.
A imagem de São Francisco lá ficou, mas o quadro da Virgem novamente desapareceu sendo encontrado ainda uma vez no píncaro, entre as duas palmeiras. Resolveu então o frade construir uma ermida no cume de penhasco, e ele mesmo, velho e alquebrado, carregou os primeiros materiais até o lugar da capela. Realizado o seu grande sonho, a igreja foi solenemente inaugurada a 1º de maio de 1570, e, enquanto se elevavam os foguetes e as manifestações de alegria dos que ali se encontravam, subiu ao céu a alma de Frei Pedro Palácios ao som dos sinos da ermida da Penha.
Após a morte de Frei Palácios, a ermida ficou a cargo de alguns devotos e amigos, que a conservaram. Esta situação perdurou até 1591, quando as autoridades de Vila Velha e de Vitória decidiram entregar a Capela da Penha aos Frades Franciscanos. Desde então, os filhos de São Francisco aumentaram a capela, e a transformaram no célebre Santuário. Em fins de 1651 teria sido lançada a pedra fundamental do Convento de Nossa Senhora da Penha. O Conventinho teve sua construção rematada em 1660 necessitando, a partir de então, de constantes melhorias e reparos.
A Festa da Penha, com romarias e afluência de devotos de todo o Brasil, acontece na primeira segunda-feira após a Páscoa. Um grande incentivador da festa foi Frei João Nepomuceno Valadares, natural de Vitória, que destacou-se como restaurador do Santuário do Convento, realizando obras de grande vulto nos anos de 1853 a 1862. Faleceu em 1865 e foi enterrado numa parede interna do Convento de São Francisco de Vitória, bem em frente à porta da sacristia.

Fonte: Nilza Botelho Megale, "Invocações da Virgem Maria no Brasil"