O carro de bois brasileiro, já celebrizado por
Pedro Américo na tela da independência,
rústico, modesto, vagaroso, foi um dos fatores que muito concorreram para o
progresso rural do Brasil. Primeiro
veículo de transporte que a nossa terra possuiu, até a cerca de meio século
atrás, o carro de bois era o transporte de rodas mais usado no meio rural,
puxados por uma junta ou parelha, ou seja, dois animais (bois ou vacas) unidos
pela canga. Quando uma junta não conseguia puxar a carga, juntava-se outra
engatando um cambão (uma corrente que liga as cangas).
Proveniente do Neolítico, o carro de bois
brasileiro é de origem romana. Na invasão da Península Ibérica pelos romanos ocorreu
a introdução do carro de bois nessa
parte da Europa. Da região do Minho, norte de Portugal, tal veículo agrário
depois de sofrer prováveis modificações, foi trazido para o Brasil pelos lusos
no século do descobrimento. O primeiro governador-geral do Brasil, Tomé de Sousa,
trouxe consigo carpinteiros e carreiros práticos, e em 1549, já se ouvia o
“cantador” nas ruas da nascente cidade de Salvador. Desde
aquele tempo quase nada mudou em suas linhas gerais, salvo pequenas alterações
de caráter regional, continua a ser o mesmo há quase 500 anos.
Com o progresso e a construção de estradas, o eixo de
madeira do carro foi substituído pelo de ferro. O eixo untado com azeite sempre
que necessário,quando em atrito com o cocão ( duas peças de madeira), cria um
chiado, uma cantilena. O típico cantar dos carros deu origem ao conhecido provérbio:
“carro apertado é que canta”.
O boi de carro é forte, musculoso e dócil. Dois são
os seus condutores: o carreiro e o candeeiro. O primeiro caminha ao lado do
carro, mantendo o ritmo vagaroso do andar dos bois. O segundo, geralmente um
menino ou um rapaz, vai à frente da junta dianteira ou "da-guia",
dando a direção da marcha.
De utilidade múltipla, além de ajudar no transporte
de madeira, cana, açúcar entre outras mercadorias, o carro de bois também
servia no transporte de mudanças e pessoas. Nas longas viagens pelo
interior os homens venciam as distâncias
utilizando-se do cavalo ou do burro, e no carro conduziam os enfermos, velhos,
senhoras e crianças.
Em meados do século XVIII, com o aparecimento da tropa de burros, o
carro de bois perdeu sua primazia. Mais leves e mais rápidos, os muares não
exigiam trilhas prévias e terrenos regulares. No final do século, vieram os
cavalos para puxar carros, carroças e carruagens, e o carro de bois foi
proibido por lei de transitar no centro das cidades, ficando o seu uso restrito
ao meio rural.
Texto: Viná Garcia Silveira de Moraes