7 de agosto de 2011

Fadas brasileiras

Este artigo foi publicado no Jornal A Gazeta do ES ( 07/08/11). Vale a pena postar aqui e partilhar com vocês esta séria opinião sobre o nosso país.


"As questões estruturais não estão sendo curadas com os remédios mágicos"

    As fadas são seres realmente encantadores e otimistas. Sempre que aparecem estão com um sorriso no rosto, ricamente vestidas. O cenário que escolhem para viver em geral são locais paradisíacos da natureza. Mas o que mais impressiona é o poder que elas têm. Basta uma varinha mágica e tudo se transforma.

    Eu tenho para mim que as fadas da atualidade optaram pelo Brasil para morar. Provavelmente estão nas nossas belas florestas tropicais, ou em algum recanto perdido do nosso imenso litoral, e durante a noite espalham pozinhos de pirlimpimpim sobre a cabeça dos menos atentos, transformando o país em algo que beira a perfeição.

    Leio nos jornais a crise em que se encontra e Europa e os Estados Unidos e, ao mesmo tempo, acompanho o progresso maravilhoso do Brasil, o milagre econômico, os avanços sociais, a geração de empregos, a melhoria na educação.

A imensa corrupção que está entranhada nos Ministérios em Brasília, o infinito fosso social entre ricos e pobres, a falta de infraestrutura como estradas, portos e aeroportos, o precário fornecimento de energia, a violência que torna os brasileiros prisioneiros em suas próprias casas, a inflação, parece que tudo isso é algo distante, sem importância. Com certeza é obra das fadas! E como todos estão acreditando que elas existem, ficaram mais fortes do que nunca.

    O problema é que o Brasil é muito sedutor. No dia em que essas fadas se deslumbrarem demais com o carnaval, o futebol, a camaradagem, o jeitinho brasileiro, o apadrinhamento político, e deixarem de trabalhar, alguém vai dizer que não acredita mais nelas, e aí já era. Vão desaparecer rapidamente. E o que vai sobrar? Um sistema de leis que não funciona, um corpo político despreparado, as dívidas dos trabalhadores, o tráfico de drogas e a corrupção. Com as fadas mortas, o dinheiro privado internacional irá embora e ficará apenas o sistema público nacional para administrar o caos, que na verdade nunca deixou de ser caos, mas havia as fadas.

     Elas construíram os alicerces do crescimento brasileiro. Mas são bases de fumaça. As questões estruturais não estão sendo curadas com os remédios mágicos. O país está crescendo sem planejamento algum, a toque de caixa, e o bem estar da população, avaliado com base no poder de compra, é algo volátil, frágil.

    Apesar de no primeiro-mundo as famílias estarem mais contidas em termos de gastos, o poder de compra ter diminuído e as taxas de desemprego estarem mais altas que o normal, há uma base social e estrutural forte que resiste e que, pelos sinais que começam a surgir, sobreviverá a estes tempos de economia enfraquecida, como sobreviveu a outros momentos de crise na história, entre eles duas guerras mundiais no século passado. No caso do Brasil, a base frágil, onde a lei só funciona para alguns, não permite um crescimento que se sustente a longo prazo. Acreditar que o país caminha em direção ao primeiro mundo agindo da forma atrasada, clientelista, corrupta e fisiologista de sempre é o mesmo que acreditar em conto de fadas.



Sergio Denicoli


Um comentário:

  1. Olá Viná,

    Obrigado por postar aqui o meu texto. Fico feliz que tenha gostado.

    Um abraço.

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